terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Sobre as Outras mulheres

Charles Kiefer, organizador do Outras mulheres, escreveu a respeito do projeto em seu blog.
Segue o texto:

"Dentre as muitas antologias de contos que organizei, existe uma pela qual nutro um singular carinho. Trata-se de O livro das mulheres, que lancei na Feira do Livro de Porto Alegre, em 1999.

Hoje, é objeto raro.

Pouco se fala, em teoria da literatura, do olhar do organizador. No limite, o organizador define, em seu recorte, aquilo que ele julga o melhor de uma determinada época. Claro que esse recorte é parcial, ideológico, subjetivo e sujeito a pressões de todos os tipos, internas e externas. Por que estas autoras e não outras? Por que estes contos e não outros?

Do mirante teórico em que me encontrava, julguei que mereciam fazer parte da minha antologia escritoras que surgiam no Rio Grande do Sul nas décadas de 80 e 90, algumas egressas das minhas próprias oficinas, outras das oficinas de Assis Brasil, entre as quais Letícia Wierchowski, Cintia Moscovith, Adriana Lunardi, Paula Tautelbaum, Martha Medeiros, Lízia Pessin Adam, Vera Karan e outras. Escolhi 13, porque o número 13, naqueles tempos, era um símbolo forte.

A história mostrou que não me enganei, as autoras daquela humilde antologia hoje são as grandes damas da literatura gaúcha.

Postei em fortunacriticadecharleskiefer.blogspot.com duas resenhas que saíram na imprensa, à época do lançamento. Se alguém tiver curiosidade sobre o que se disse então, basta clicar duas vezes sobre o link.

E agora, passados 11 anos, vou lançar a segunda antologia com contos femininos. Vai se chamar Outras mulheres. E volto a apostar que o futuro me dará razão. Por enquanto, os nomes das novas grandes damas da literatura do Sul ainda é um segredo. (Nem tanto, que na era da informação instantânea, os nomes das “outras mulheres” já estão circulando. Adianto que, desta vez, eu as escolhi a partir de um concurso literário. Hoje, são tantas as boas narradoras nesta terra meridional que foi preciso mudar o método de escolha. Participaram do concurso mais de 80 escritoras).

Assim, no dia 08 de março de 2010, quando a Editora Dublinense lançar o livro, os jornais e revistas falarão daquelas que na próxima década estarão fazendo sucesso como cronistas, contistas, romancistas. Escolhemos esta data, em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, por nos parecer o dia mais adequado para o lançamento de uma obra escrita somente por mulheres. A sensação que tenho é que, num futuro não muito distante, os leitores disputarão Outras mulheres nas livrarias-sebos como hoje disputam O livro das mulheres.

Como se pode ver, não penso que o livro de papel, brochura de variados tamanhos, vá desaparecer por causa dos e-readers. Ele vai se fetichizar, vai se tornar objeto de culto. Poucos o terão e valerá muito. Alguém aí poderia me informar quanto custa, no mercado de obras raras e objetos antigos, um rolo de papiro?

Também nesta nova antologia estou abrindo mão dos direitos autorais de organizador. O gesto simboliza, apenas, que as faço por absoluta paixão. E para aumentar a pontuação no currículo Lattes, dirão os maldosos. Absolutamente não, pois já fui excluído do corpo de professores do mestrado em Escrita Criativa da PUC por falta de pontuação. Não tenho publicado mais ensaios acadêmicos em livros e revistas, não vou a Seminários e Congressos, participo de poucas bancas de mestrado e doutorado. Enfim, faço uma não-carreira acadêmica.

Se outros se jactam do que escreveram, eu me jacto do que escrevem os meus alunos e alunas."

Um comentário:

  1. Parabéns ao Charles pela constante reinvençao da literatura gaúcha e a todas as autoras. Especialmente para Cristina, Daniela, Leila e Lívia que, além do gênero, que têm em comum a ótima qualidade dos seus textos.

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